Não existe história de amor sem chocolate. Uma caixa de bombom para presentear. Uma xícara de chocolate quente no sofá enquanto se assiste a um filme de mãos dadas. Uma mousse de chocolate para agradar a quem se ama. Na história de amor vivida por Claudia Landmann, que deu origem à Chocolat du Jour, o chocolate foi, ao mesmo tempo, protagonista e coadjuvante de alguns contos recheados, acima de tudo, de paixão.
Brasileira casada com o sueco John Landmann, Claudia sempre foi apaixonada por chocolate. Quando viajava para a Europa, suas malas voltavam lotadas com as últimas novidades do mercado. Tanto ela como o marido não se conformavam por não encontrarem aqui a mesma qualidade e, por isso, no início dos anos 1980, Claudia começou a fazer trufas que, de tão boas, passaram a ser requisitadas, mais e mais, por amigos próximos e vizinhos.
A receita ainda era incomum no Brasil: uma ganache cremosa, intensa e perfeita, finalizada com primor, envolta com cacau em pó, capaz de surpreender e encantar, à primeira mordida, os mais críticos paladares. O sucesso foi tanto que Claudia teve que aumentar a produção e montar um pequeno ateliê na edícula da casa em que morava com John e os filhos Manoel e Patricia, com sete e cinco anos, respectivamente.
“A gente chamava a casinha em que minha mãe montou o ateliê de Caracol, porque ela era redonda e ia dando voltas”, relembra Patricia, sobre os tempos em que as duas crianças estavam sempre ali, curiosas diante da “fantástica fábrica de chocolates” da mamãe.
“Um dia, eu e minha irmã entramos escondidos na Caracol e encontramos uma barra branca e apetitosa. Não tínhamos dúvidas de que era um pedaço de chocolate e demos aquela mordida cheia de vontade. Mas, na verdade, era manteiga de cacau pura. Foi uma decepção —e um pouco de dor de barriga”, conta Manoel, divertindo-se.
Nos anos 1980, porém, quando Claudia começou a se aventurar na confeitaria, encontrar matéria-prima de qualidade no Brasil ainda era uma tarefa difícil e, por isso, ela decidiu embarcar para a Bélgica atrás do seu sonho: aprimorar seus conhecimentos por meio de um curso de especialização e descobrir um mundo inteiro de possibilidades e inovação em Bruxelas, cidade que, até hoje, é considerada por muitos o centro de desenvolvimento das melhores técnicas de elaboração de chocolates finos do mundo.
“O apoio de John foi fundamental para a Chocolat du Jour ter se tornado um sucesso e, na essência, ser o que é até hoje. Ele é o amor da minha vida e o maior torcedor e incentivador desse projeto”, revela Claudia emocionada. Com seus 30 e poucos anos, passar alguns meses em um país estrangeiro sozinha e deixar os filhos sob os cuidados do marido não era algo comum para as mulheres à época. Mas John Landmann sempre deu força à esposa em todos os seus desejos e criações, tornando-se o grande investidor do projeto, não apenas financeiramente, mas, principalmente, por seu apoio e amor incondicionais.
E assim nasceu a Chocolat du Jour, marca 100% brasileira, pioneira na produção de chocolates finos no Brasil, cujo nome remete ao frescor das trufas que deram início a toda essa história. Du jour, em francês, significa “do dia”, lembrando o trabalho diário de Claudia que, todas as manhãs, elaborava suas trufas, uma a uma…. com amor.
Pioneirismo e brasilidade
Em 1987, após os cursos na Bélgica e muitas ideias inovadoras, Claudia montou a primeira fábrica (mas ainda com ares de ateliê, característica que permanece até hoje) da Chocolat du Jour, na rua Atílio Innocenti, Vila Olímpia, que foi também a primeira loja da marca aberta ao público. “Queríamos encantar as pessoas com nossos chocolates”, afirma ela. E, segundo Manoel, ela conseguia. “Minha mãe dava chocolate para todo mundo degustar, sempre pedindo a opinião e prestando atenção na reação das pessoas. E não era apenas para encantar, era também para aprimorar nossos produtos”, comenta ele, sempre ressaltando o empenho e dedicação da mãe em transformar seu sonho em um projeto de vida.
Inovadora para o período, a área de finalização dos bombons ficava em uma sala de vidro, para que os clientes da loja pudessem acompanhar o acabamento dos chocolates. “Era uma emoção receber as pessoas e observar o sorriso de satisfação delas ao sentir todo aquele aroma envolvente no ar”, conta Claudia.
O pioneirismo dela como chocolatière no Brasil ficava cada vez mais evidente, não só pela ousadia em construir um ateliê aberto para os clientes, como também por oferecer chocolates finos e produtos de luxo feitos aqui, com qualidade superior aos encontrados no país. Foi uma das visitas de uma rainha europeia a terras tupiniquins que provocou, novamente, a criatividade da chocolatière.
“Fomos procurados para criar uma caixa de bombons para presenteá-la. E fiquei pensando em como poderíamos surpreendê-la criando algo que remetesse à sua infância, ao mesmo tempo que trouxesse toda a qualidade e inovação da produção de chocolates da Europa”, conta Claudia.
A rainha em questão é filha de uma brasileira e de um alemão e morou em São Paulo durante a primeira infância. Sua história serviu de inspiração para que a chocolatière criasse uma caixa exclusiva com bombons recheados com pé-de-moleque e paçoca, doces à base de amendoim muito comuns nas festas brasileiras, e que viriam a integrar a caixa junina da marca.
“Foi aí que começamos a brincar com a ideia de trabalhar com ingredientes típicos brasileiros, num momento em que ninguém fazia isso por aqui”. Hoje, quem não conhece a crocância apaixonante da Choco Pop, as pipocas doces cobertas com chocolate ao leite da Chocolat du Jour, que arrebatou o coração e conquistou o paladar de crianças e adultos por aí?
Inovação e transformação
Se, no início, os pequenos Manoel e Patricia eram observadores atentos, ajudantes empenhados e os degustadores mais dedicados da produção de chocolates da mãe, hoje, a dupla cresceu e ambos assumiram papéis importantes na administração e gestão da marca que, atualmente, conta com três unidades: no shopping Iguatemi, na rua Haddock Lobo e no Shopping Cidade Jardim, local em que os irmãos inauguraram, além da loja, um projeto inovador idealizado por eles: o primeiro ChocoBar (apelido carinhoso para Choco Bean to Bar) da marca, cuja ideia do ambiente é proporcionar ao cliente uma mergulho profundo no universo do chocolate, com degustações exclusivas de produtos e bebidas à base de cacau.
Formado em administração de empresas com foco em empreendedorismo nos Estados Unidos, Manoel Landmann entrou de cabeça nos negócios da família no início dos anos 2000, com apenas 23 anos, e algum tempo depois, convidou a irmã, Patricia, que havia se formado em publicidade e até então trabalhava em agência, para assumir a área de marketing.
A empresa familiar se expandiu em tamanho —foi preciso mudar o ateliê para um imóvel maior, agora no Alto da Lapa— , mas também em diversidade de produtos. E, neste momento, Manoel e Patricia foram decisivos para mais uma inovação protagonizada pela Chocolat du Jour.
A vontade de explorar ainda mais a riqueza de ingredientes do Brasil levou Claudia, anos mais tarde, à Bahia, junto com os filhos, para uma pesquisa intensa sobre o aprimoramento da técnica de produção do cacau fino no Brasil, por meio de visitas a diversas fazendas produtivas da região e de muitas conversas com especialistas em cacau no Brasil e no exterior. Em 2007, a cacauicultura estava sendo retomada no interior do estado baiano, após anos difíceis diante da praga vassoura-de-bruxa, que assolou os cacaueiros.
Foi por iniciativa de Claudia, que nesta época investiu em maquinários de alta tecnologia para a produção de chocolates em pequena escala, e de Manoel e Patricia, que tiveram grande influência na decisão ousada de substituir todo o cacau importado pela produção nacional realizada pelas fazendas da região, que a Chocolat du Jour deu início a uma nova era da fábrica de chocolates. Chamada de bean to bar, que, em tradução literal, significa do grão à barra, a nova fase indicava que, a partir daquele momento, todo o processo de fabricação do chocolate —da colheita do cacau, passando pela torra, secagem e moagem até a transformação da amêndoa em manteiga e, por fim, no produto final— seria feita pela marca, de forma sustentável, e acompanhada em todas as suas fases pelos olhos atentos e as mãos inquietas da família e por uma equipe apaixonada pelo que faz. Ao todo, são 56 funcionários, divididos entre lojas, ateliê e fazenda.
Em 2018, Manoel adquiriu uma fazenda na cidade de Ibirapitanga, no centro-sul da Bahia, que hoje fornece parte do cacau utilizado pela marca, mas que, em breve, devido à sua alta qualidade, deve ser exportado também para países como… Bélgica. Na fazenda, todo o processo é feito respeitando a preservação do meio ambiente e com foco na difusão local de práticas socioambientais diferenciadas.
Com chocolate, com afeto
Por tudo isso, é impossível falar de Chocolat du Jour sem falar de afeto. Criar um chocolate que pudesse aconchegar seus clientes e transportá-los para suas memórias mais bonitas sempre foi o principal objetivo de Claudia, que cuidou do crescimento da Chocolat du Jour como cuidou (e ainda cuida!) de sua família.
E todos os produtos da marca transparecem esse desejo em cada pedacinho. As famosas Truffes du Jour assumem o posto de carro-chefe e são capazes de despertar as melhores sensações a cada mordida.
A Chocolat du Jour é, ainda hoje, uma empresa pequena e de produção artesanal. Os chocolates continuam sendo feitos diariamente em escala limitada e distribuídos todos os dias entre as lojas, garantindo assim um chocolate fresco (du jour!) a qualquer hora.